“Desde que eu me entendo por gente (e, consequentemente, por vascaíno),
não lembro de ver o Vasco viver três momentos tão distintos em tão pouco tempo.
É como se o Rio, num mesmo ano, efetivamente, vivesse as quatro estações. Num
passado recente, o Vasco vinha de mero figurante. No Carioca, um vice aqui,
outro ali; nos Brasileiros, uma eventual briga por classificação numa
Sul-Americana. Isso, quando não brigava para não cair, o que dava, pelo menos,
alguma emoção, já que o título era algo descartado desde antes da primeira rodada.
Em janeiro de 2008, o Vasco começou com uma esquisita pré-temporada em Dubai,
com Romário de técnico (!) e jogador (!!!), e a torcida forçando uma barra
gritando: “Jonílson vem aí, o bicho vai pegar”. Pior presságio, impossível.
Começou o Brasileiro e o Vasco ‘revolucionava’ com Antônio Lopes no comando,
pela octogésima-nona vez. Passado nem tão distante, mas que hoje pode
representar um atraso de séculos. Poucas rodadas depois, uma surpresa. A
Justiça finalmente entendeu que havia algo de podre no reino e as eleições
foram remarcadas. Ninguém acreditava que o clube daria esse passo à frente. Até
porque sabemos que, no Brasil, a justiça tarda… tarda… até a gente perder de
vista. Mas, não. Ninguém seria impedido de votar, ninguém votaria mais de uma
vez, mortos e crianças não teriam direito ao voto. Simples assim. E a
presidência acabou assumida por Roberto Dinamite. Nada poderia ser mais
simbólico, para um clube tradicionalmente democrático como o Vasco, do que ver
a ditadura ruir diante do nosso maior ídolo. É quase um ‘povo no poder’. E o
passado começou a dar lugar ao presente. Que começou mal, com a queda para a
Segundona. Culpa muito mais do passado do que do presente, em si. Faltou
malandragem? Pode ser. Mas o Vasco do presente não quer fazer uso da ‘malandragem’.
Ou simplismente, não sabe usar. A queda - pior momento da história do clube -
acabou se revertendo num bem impensável. Apoiados por aqueles velhos clichês,
tipo “no fundo do poço tem uma mola”, “às vezes é preciso recuar uma casa pra
andar duas”, “depois da tempestade vem a calmaria”, prevaleceu o “há males que
vêm para bem”. Hoje, o presente está em campo e o Vasco é outro. Se no passado
era difícil lotar São Januário, no presente alguns jogos foram transferidos
para o Mário Filho. São Januário ficou pequeno. O Vasco do presente fez a
torcida recuperar a auto-estima. A sentir, de novo, o orgulho de ser Vasco. É a
imensa torcida, bem feliz. Agora o futuro se aproxima. Já está no aquecimento
e, em breve, a voz vai anunciar que a “Suderj informa”. Quando ele entrar em
campo, começa um novo jogo. É o pulo do gato! Quase se aproveite todo o
sentimento reconquistado no presente, para fazer um futuro vitorioso. O jogo
não está ganho. Nunca está. Mas como o passado está enterrado, e o presente,
vivíssimo, é só jogar com mais inteligência do que malandragem, que a gente
ganha o futuro.”
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